segunda-feira, 19 de julho de 2010

A dura lição da neblina


Era uma noite de inverno em Glasgow, quando Gomes, o Libertino adentrou o pub A Faggot's Grocery, com intenção de fazer arruaças.
Batendo a porta estrondosamente à sua entrada, soltou arrotos, raspou os pés no capacho e gritou, segurando a ponta do próprio nariz, em provocação:

Não há lugar no mundo como a casa de Sally Garranchuda, a mais nervosa e fofolette das sluts fudequinhas, daqui até Oklahoma, e mamãe de todas as vossas senhorias, carpidores de excremento escoto de armistícios!

Aquele pub, porém, era de propriedade do escrivão Borrabotas Lampreu, conhecido por ser um homem gelatinoso e pacífico, doador de dinheiro para quermesses, instituições beneficentes, mendigos e antros de esculhambação fascista, onde cidadãos de classe média usavam catapultas para bombardear, com sêmen de gado red angus, um poster de Mussolini. Ao se dar conta do que acontecia, Lampreu não se conteve:

Queres passar de coisa troncha a maniqueísmo, seu traquinas? Pois vieste ao lugar certo... hei de banir-te pra sempre das praias endinheiradas onde canta o caga-telhas!

Percebendo a merda que havia feito, Gomes girou sobre os calcanhares e as rodas de tortura e, rápido feito sirigaita em dia de partida de cricket, zuniu pela rua enevoada, emitindo gritos terríveis de agonia, acordando a vizinhança:

Eu quero ovo de codorna pra comer! Quem, em sua miserável vida, jamais se sentiu sexualmente atraído por uma cachalote?

Mal teve tempo, no entanto, de puxar de volta o fôlego de suas palavras. Voava por ali um helicóptero que se perdeu de seu bando ao tentar alcançar o mar de Stravaganzza, e, visto que tinha fome, espalhou com sua hélice o corpo do pobre homem pela rua. Ao pousar para o nefando banquete, porém, a névoa o atrapalhou e ele atingiu uma mina terrestre disfarçada de anúncio de empadinhas com recheio de cocó, explodindo.

Os homens que estavam no pub, e que saíram em perseguição ao desafortunado badôdo, não conseguiram enxergar nada, além de névoa e uma explosão terrível, e pensaram que o joelho de Gomes, que veio rolando pela rua até bater no bico do sapato de Thomas Tetas de Soslaio (motorista de um lorrey com placa adulterada), fosse na verdade um medalhão de prata concedido a Lampreu pela Providência Divina, motivo pelo qual o penduraram na porta do pub e felaram seu dono por cinco dias seguidos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Festa finda, músicos a pé


Esgaravatana Seixas era um rapsodo incompetente, que sempre trocava situações e personagens de suas histórias, provocando a fúria e síncopes cardíacas nos moradores das cidades por onde passava, sendo obrigado a fugir pianinho daqueles lugares, com frequência.
Uma vez, chegando ao povoado de Cu Sôfrego de Mairiporã, na Carolina do Norte, foi reconhecido por um castrador de cavalos-jume:

Veio até aqui pra nos encher a porra do saco com suas historinhas de cocó assíduo? Vou presto chamar a Guarda Municipal.

Sem ter como fugir, argumentar ou instaurar eleições do cacete, Seixas implorou:

Ai de mim, que sou um xolinha sem tamanho nem biscates! Deixa-me passar, deixa-me seguir em frente! Imploro-vos... acabai com essa toleima!

Mas Bostanágua Gouveia era um castrador conhecido por sua inabalável frieza e aguerrida fé nos preceitos litúrgicos do Livro de Bukkakke e nos postulados de cálculos bizarros do hindu Pragabunda, e não conhecia a piedade: cortou, usando sua navalha Buñuel, os dois pulsos do pobre viajante, mergulhando-os no esterco das ruas, em seguida.

Aprenderás a dura lição da vida, chutabagos nojento! Míngua tua casta, de uma vez por todas e todas por uma deusa pagã, com corpo de teixo e cabeça de garoupa!

Humilhado, ferido mortalmente e zombado por todos que passaram por ali, Esgaravatana chorou feito putinha papa-moscas, chamando a atenção de três remanescentes da detènte e um galo (que estavam atocaiados num bosque de canelas-peido, não muito longe dali), despertando-lhes uma raiva saponácea, o que fez com que passassem bala a torto e a direito, em todos os moradores do povoado, com seus toscos e enferrujados rifles.

Depois de fazer uma pira com os corpos, mijaram sobre ela a noite toda, e enterraram o pobre Seixas numa cova rasa, com a esperança de que, um dia, ressuscitasse. Ao invés disso, dias depois, sobre seu túmulo, um corvo cagou.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Alma do Negócio


Aspásio Trocabotas era um rico comerciante, e figura principal de um conglomerado que abrangia empresas construtoras de painço até cardumes de badejos sefraditas.

Certo dia, após demorada reunião, em que se discutiu a fusão de seu império com uma rede de lojas de roupa sadomasoquistanesa, chegou em casa e encontrou o Diabo em seu gabinete, rodeado de dólmens e comendo batatinhas:

Ora, ora, ora... se não é Trocabotas, o dono desta casa! Vim buscar sua alma, galhofeiro de mil bronhas! Pastará junco mijado, junto a um bando de perdizes, por toda a eternidade!

Aspásio, no entanto, era matreiro, ladino, azôdo, e sabia que jamais houvera tratado qualquer coisa com qualquer entidade metafísica, muito menos com uma bicha empertigada, vestida de bubulas e godingas turcas:

Dou-te já o remédio por que imploras, cara de buceta impávida!

Dizendo isso, pegou de um mangual na parede e, num só momento, partiu pra partir a cara do infernal invasor, que levantou-se, rindo feito um desgraçado, espalhando migalhas de batata frita e perdigotos sabor alcaçuz sobre os carpetes de Dakota do anfitrião, ao ver que este, por engano, havia tirado da parede a tampa do fim-do-mundo, poderoso dispositivo de segurança, que engolfou Trocabotas numa flamejante explosão de fogo, enxofre, azedume e panfletos de Madame Zoina, capaz de trazer de volta, em três dias, a pessoa amada, a pessoa procurada, Fernando Pessoa e seus heterônimos, além de dar um alô pra câmera, com chifrinhos feitos com os dedos.

Vitorioso, o Diabo mudou seu nome para Babalu, assumindo os negócios de Aspásio e se tornando o Homem do Ano da Forbes e posando peladinho para a Hustler, ostentando suas recém-adquiridas próteses de polifemo, nas orelhas.

sábado, 10 de julho de 2010

Um triângulo nada isósceles


Crisântemo e Balaústre eram dois clowns divertidos, putíssimos, que faziam salamaleques e badodices em um certo bairro comercial em Boston, quando não estavam ocupados jogando bridge ou lendo cartilhas de Epaminondas Cucamonga, antigo radialista pusilânime, ligado ao IRA.

Um dia, Crisântemo se apaixonou perdidamente pela namorada de Balaústre, Delicious Amputée, uma trapezista da gandaia, putíssima, cuja elasticidade lhe permitia grandes proezas no felattio e na vida, de um modo geral.

Não contendo mais seus sinceros sentimentos, resolveu chamar o amigo, para uma conversa:

Seguinte... você a distrai e eu pulo-lhe em cima, realizando a manobra Priapo Contente Borrando as Botas.

Ferido pela traição do amigo, Balaústre tirou do bolso uma cigarreira e a abriu, gritando, putíssimo, com ligeiro sotaque ídiche:

Hava nagila hava, farol de milha! Bem merece que te pisoteiem os bolóis, às cegas!

Ato contínuo, eu sou contínuo e você é um filho de benzedeira de cooperativa na caatinga, Crisântemo foi despetalado, atropelado por um estouro de bisontes bisonhos bisorros, sem que pudesse reagir de forma alguma, a não ser gritando:

Cura-se com cádmio à ferida aberta... mas jamais haverá outro amigo em face desta terra, capaz de lambidinhas safadas em teu seio, ó Liberdade!

Balaústre fugiu, desgovernado, pra sempre preso a uma forma helicoidal, sendo espezinhado feito pâncreas de cocó, por onde quer que fosse.

Alheia a tudo e a todos, Delicious casou-se com Dalton Trevisan, com quem teve um filho, de nome Jurinélio, a quem atribuíam-se poderes telepáticos e afrodisíacos, se bolinado em praça pública.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O caixeiro-viajante ouriçado


À Paula, uma belíssima paulistana, de quem fui amante em outra vida.




Catherine Luvmetender era uma godiva do jazz que vivia isolada em uma torre de ébano, marfim e pantomimas, e passava os dias acariciando seu serval Caronte e comendo bruschettas de pleonasmo com bolachas cabaçudas de água e sal (que eram, na verdade, ostras de manteiga molusca, radioativa na fonte, trazidas dos Bálcãs por galeões-fantasmas).

Numa noite summertime de outono, bateu a sua porta um mascate de nome Sigurd Rompe Mato, que havia se perdido depois de terrível tempestade no Bósforo, e que implorou por abrigo, tão logo ela abriu a porta:

I'm a stranger, baby, I just got in your town... mas vai ser gostosa assim lá na casa do Streptococcus Japanese Mantega!

Sem saber direito o que fazer, ela o deixou entrar, e para acalmá-lo, cobriu-o com mantas, serviu-lhe chá de tília de Pensacola e foi até ao piano, tocar um foda-se.

Ao ver aquilo, Sigurd tomou de sua espada Claymore e bradou:

Casa-te comigo, ou passo meu esfíncter a fio-terra de espada!

Sem pestanejar, Cathy Troubador-Cocotte (Catherine assim era chamada por Wesley & os Naipes, famosa trupe de neguinhos tocadores de metais pesados, em New Orleans n' Bragança) tirou do piano uma cauda de estegossauro e deu-lhe uma lambada nas fuças marianas do forasteiro, derrubando uma de suas metades no carpete e jogando mais duas, janela abaixo.

Arrastando-se, agonizante, até à cozinha, Sigurd ainda teve tempo de dizer, antes que o sangue lhe parasse de correr no cérbero:

Mmmm...mmmm...

Naquela noite, um caminho de flores azimutais exalou um aroma de passiflora por toda a cidade, que nunca mais acordou.

Caronte mudou-se para Niterói, depois do ocorrido, e ganha uma baba na travessia para o Rio de Janeiro.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O peidorreiro destemido


Borbarakk era um pescador aposentado, afogado em dívidas, de vida naufragada, que perambulava pelas ruas de Memphis, com um realejo desafinado, tirando a sorte pras pessoas de bem.

Certa vez, foi acometido de uma crise flata, justamente no dia de São Pataputas, padroeiro dos rebeldes sem causa urgente. Contudo, precisava garantir seu pão, sua comida, todo amor que houver nessa cidade de gente marrenta, e, mesmo com todas aquelas pessoas por perto, ia soltando, ali mesmo, uns peidinhos muito dos sem-cerimônia.

Acontece que, na ocasião, estava na cidade um perigoso e olegário estivador, dado a palestras tortas e afrontamentos diretos, de nome Sinuoso, que era conhecido por sua maestria na arte da capoeira e do fagote. Ao passar pelo realejo de Borbarakk, o tranca-ruas parou:

Fee, faa, foo, foam... sinto cheiro de tumbebas. Acaso comeste, ontem, as tumbebas de minha horta?

Pego em fragrante delito, Borbarakk sacou rapidamente uma calculadora e, com inacreditável frieza, dividiu o valentão por 9, fazendo com que suas tripas fossem parar, significativamente, do outro lado da vírgula. Antes de ser seccionado, porém, Sinuoso ainda gritou:

Tomei no cu, pra largar de ser condricte! Malditas tumbebas! Triste fim pra um isoldo!

Aclamado como novo herói local, Borbarakk foi esquartejado em praça pública, pra grande alegria daquela gente humilde, que não via algo assim, tão magnífico, desde a chegada do transatlântico Gozador àquele porto, décadas atrás, quando a cidade passava por uma crise gravíssima de abstinência.

sábado, 3 de julho de 2010

O Moleiro Incompetente


Um moleiro de nome Iastophânias cruzou um galo e uma caixa de nitrato de prata e obteve sua primeira filha, Rebeca, que não usava paletó no frio.

Numa segunda vez, cruzando um babalaô e uma freira carmelita, teve gêmeos, gerados no ventre de uma discórdia, e acabaram se matando logo após o parto, estrangulando-se mutuamente com um cordão da marca 1 Billy Call.

Na terceira tentativa, cruzando um pé de ervilha rugosa com uma drosophyla, nasceu Clive Owen, que mais tarde alcançou sucesso como crooner em uma boate gay.

Cansado de tentativas fracassadas (ele buscava o elo perdido da humanidade), Iastophânias bebeu leite de loba com bolóis de Massachussets e morreu engasgado, pondo fim a uma série de malogros épicos, trazendo a paz de volta ao Condado Não Se Olham os Dentes.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Entre a fonte e a cegueira


Garbo Longfellow era um camarada acintoso, determinado e com leve inclinação para lúdico, quando em crise de artrite.
Certo dia, ao passar pela Fonte da Balbúrdia, no Maine, exclamou, a que todos ouvissem:

Meu reino por aglaés e peido com farinha!

Uma cigana bêbeda, de nome Guloseima Prestes, passava pelo local e viu naquilo uma oportunidade pra se dar bem, uma vez que só conhecera percalços, amputações e deficiência de adenosina, em sua pobre vida como mulata de cabaré, onde dançava o maastriche e a polca cantábile, com fusos incendiados pendentes de sua vulva, por argolas prateadas. Chegou-se, feito a tilápia gangrenada do Volga (matreira e ladina, e famosa por jantar às custas de velhinhos com incontinência urinária), e interpelou Garbo, de maneira sagaz:

Quer boquete ou punhetinha, bololzinho de guarnapas?

Amargurado pela dor de uma saudade, o homem pôs-se a esbravejar, enquanto se arranhava na altura do pescoço, produzindo um espetáculo dantesco e apolinário, que foi comentado por muito tempo nas rodas de bisca do bar de Kronos, um velho marinheiro a quem faltava uma das sobrancelhas, perdida no Mar Cáspio, perto da Seborréia, região famosa por parir sargentos e âncoras de televisão estatal:

Assim, não vingo! Assim, não presto! Tirem esses paramécios de cima de mim!

A cigana arregalou tanto os olhos, que explodiram, o que fez com que Garbo espumasse efusivamente pela boca, até se tornar uma poça de ascarel, onde um pince-nez reluzia sua derrota e seu aprimoramento em relações internas e catálise de gordura hidrogenada, própria para o consumo do gado Chianina e de alcoviteiras viciadas em placebo.

Guloseima terminou seus dias como piloto da RAF, abatendo Junkers enfurecidos pela peste, no Parque Nacional da Serra Viada.