quarta-feira, 18 de julho de 2012

Serpe que se morde, amanhece coruja



Nathanael Cuzudinho era um vigarista de marca maior, e aplicava golpes na praça, fingindo-se de ourives. Certa vez, uma portuguesa perneta de nome Glória Hosana resolveu tomar partido de vários amigos seus que haviam sido vítimas das falcatruas de Natnat Saynomore (apelido que Cuzudinho ganhara, quando foi caixeiro-viajante), e preparou-lhe uma poção cheia de peçonha de cobra-cucu, áspide conhecidamente mortal, no Pantanal, legal, sensacional, pega no meu arpejo. Disfarçando-se de cadáver vilipendiado, ela o interpelou à porta do escritório do falso ourives, cujas paredes estavam cheias de lodo de infiltrações e calendários pornográficos com motivos gays:

Ó, cutucador de fainas... bebe cá este licor, muito artesanal, que vos preparei com tanto amor, com tanta emoção, a vida me fez o favor de me dar dons baristas!

Como Nathanael era badôdo nos negócios de natureza burlesca, e nas putarias generalizadas de gentes sem caráter, apenas fingiu aceitar a poção, e prontamente a jogou em outro copo, oferecendo-a de volta à musa lusa obtusa, com bafo de merluza, dizendo que era cafezinho gostoso.
Feliz da vida, Glória Hosana, uma matrona de buço hirsuto, solteirona, rechonchuda e feia feito parto em queda-livre, engoliu, ávida, a gentileza de Nathanael, só se percebendo de seu erro, quando começou a verter tílias e sabugueiros pelas tetas enormes:

O rio de Piracicaba vai botar o pau pra fora! Mis'rável! Paneleiro! Poliglota!

E morreu, sendo prontamente derretida pelo facínora, e remoldada em forma de uma estatueta representando um chinês pagando boquete.

4 comentários: